terça-feira, 28 de junho de 2022

O Zelo e a Autoridade de Jesus na Purificação do templo

 

O zelo de Jesus na purificação do Templo

Jo 2.13-22

Jesus sai de uma festa familiar e vai para a festa mais importante dos judeus, a festa da Páscoa, na cidade de Jerusalém. Naquela época, a população de Jerusalém, que girava em torno de cinquenta mil pessoas, quintuplicava. A Páscoa era a alegria dos judeus e ao mesmo tempo o terror dos romanos. Havia grande temor de conflitos e insurreições, uma vez que pessoas de todo o Império Romano se dirigiam a Jerusalém nessa semana. O templo era o centro nevrálgico dessa festa; e foi exatamente aí que Jesus agiu.

No casamento, Jesus exerceu misericórdia; no templo, exerceu juízo e disciplina. No casamento, ele transformou água em vinho; no templo, pegou o chicote e expulsou os cambistas. No entanto, o zelo intenso pela casa de seu Pai não é menos revelação da glória do Filho que sua participação no poder criador e doador de Deus ao realizar o milagre por ocasião das bodas. Um aspecto não pode ser dissociado do outro nem pode ser eliminado pelo outro. Somente na simultaneidade dos dois traços básicos Jesus revela o Deus verdadeiro, que ama o mundo com a entrega do melhor, e cuja ira, apesar disso, é manifesta com uma seriedade inflexível.

Alguns estudiosos afirmam que a purificação do templo descrita aqui no evangelho de João (2.13-22) é a mesma purificação realizada por Jesus no final do seu ministério e descrita pelos Evangelhos Sinóticos (Mt 21.12-16; Mc 11.13-18; Lc 9.4,46). Os fatos, porém, provam o contrário. O relato de João se dá no começo do ministério de Jesus, e o fato narrado pelos Evangelhos Sinóticos acontece no final de seu ministério. Nos Sinóticos, Jesus cita o Antigo Testamento como autoridade (Mt 21.13; Mc 11.17; Lc 19.46), mas, em João, ele usa suas próprias palavras. Os Sinóticos não mencionam a importante declaração de Jesus de que destruiria o templo e em três dias o reedificaria, declaração que mais tarde foi usada contra ele em seu julgamento no Sinédrio (Mt 26.61; Mc 15.58).

Charles Erdman diz que só havia um lugar e uma ocasião para nosso Senhor inaugurar de modo próprio o seu ministério público: o lugar devia ser Jerusalém, a capital, no templo, o centro da vida do povo e do culto; a ocasião devia ser a festa da Páscoa, a quadra mais solene do ano, quando a cidade se enchia de peregrinos de todas as partes da terra. Aqui Jesus deixa a vida privada para encetar sua carreira pública.

William Barclay explica que Jesus purificou o templo motivado pelo menos por três razões: 1) porque o templo, a casa de oração, estava sendo dessacralizada; 2) para demonstrar que todo o aparato de sacrifícios de animais carecia completamente de permanência; 3) porque o templo estava sendo transformado em covil de ladrões. O templo era formado por uma série de pátios que conduziam ao templo propriamente dito e ao Lugar Santo. Primeiro, havia o Pátio dos Gentios; logo depois, o Pátio das Mulheres; então, o Pátio dos Israelitas; e, depois, o Pátio dos Sacerdotes. Todo o comércio de compra e venda era feito no Pátio dos Gentios, o único lugar onde os gentios podiam transitar. Aquele pátio fora destinado aos gentios para que eles viessem meditar e orar. Aliás, era o único lugar de oração que os gentios conheciam. O problema é que os sacerdotes transformaram esse lugar de oração numa feira de comércio onde ninguém conseguia orar. O mugido dos bois, o balido das ovelhas, o arrulho das pombas, os gritos dos vendedores ambulantes, o tilintar das moedas, as vozes que se elevavam no regateio do comércio; todas essas coisas se combinavam para converter o Pátio dos Gentios em um lugar onde ninguém podia adorar a Deus.

Esse episódio nos ensina duas lições, que descrevemos a seguir.

Em primeiro lugar, a casa de Deus é lugar de adoração, e não de comércio (2.13-17). O único espaço aberto no templo a pessoas de “todas as nações” (além dos israelitas) era o pátio externo (às vezes chamado de Pátio dos Gentios); e, se essa área fosse ocupada para o comércio, não poderia ser usada para o culto. A ação de Jesus reforçou seu protesto verbal.38 Mudar o propósito da casa de Deus e instrumentalizá-la para auferir lucro é uma distorção intolerável. Isso provoca a ira de Deus. O mesmo Jesus que compareceu cheio de ternura ao casamento está, agora, irado no templo. Ele tem uma profunda paixão pela reverência. A casa de Deus havia sido profanada. Jeitosamente, transformaram-na em covil de ladrões e salteadores. O templo virou uma praça de negócios. O lucro, e não a face de Deus, era buscado avidamente.

Carson diz que, em lugar da solene dignidade e do murmúrio de oração, havia o rugido do gado e o balido das ovelhas. Em lugar do quebrantamento e da contrição, da santa adoração e da prolongada petição, havia apenas o barulho do comércio.39 A purificação do templo demonstra de forma eloquente a preocupação de Jesus com a verdadeira adoração e o correto relacionamento com Deus.

Precisamos entender o contexto para compreender a atitude de Jesus. A lei definia os animais a serem oferecidos nos sacrifícios. Deveriam esses peregrinos trazer esses animais de longas distâncias ou poderiam comprá-los na praça do templo? Deuteronômio 14.24-26 já havia permitido levar os dízimos em dinheiro em vez dos produtos agrícolas propriamente ditos. Além disso, havia o imposto do templo (Mt 17.24), que cada judeu devia pagar anualmente. Os sacerdotes, dissimuladamente, proibiam que dinheiro estrangeiro fosse aceito na compra de animais para o sacrifício. Os peregrinos que vinham de outras paragens precisavam trocar a moeda estrangeira com os cambistas do templo. O problema é que esses cambistas, em parceria com os sacerdotes, cobravam taxas abusivas dos adoradores, a fim de auferirem lucros mais expressivos. Com o tempo, o propósito não era mais facilitar a vida dos peregrinos, mas alcançar gordos lucros com o comércio dentro da casa de Deus. O dinheiro, e não a glória de Deus, era a motivação deles. A casa de Deus estava sendo profanada.

A reação de Jesus é contundente. Ele não usa apenas palavras para reprovar essa profanação, mas adota uma ação enérgica. O que move Jesus não é uma ira descontrolada, mas seu zelo pela casa do Pai (SI 69.10). Jesus fez uma faxina geral no templo. Expulsou os vendedores e os cambistas, virou as mesas e ordenou aos que vendiam pombas que as retirassem daquele lugar sagrado. Matthew Henry diz que Jesus nunca usou a força para levar alguém ao templo, mas somente para expulsar de lá aqueles que o profanavam.

Warren Wiersbe acrescenta que não apenas o vinho havia se esgotado no casamento, como também a glória havia deixado o templo. Werner de Boor tem razão em destacar que esse zelo pela casa de Deus podia “consumi-lo” em sentido mais profundo, levando-o à morte. Quando Jesus purificou o templo, acabou declarando guerra a esses líderes religiosos. William Hendriksen diz que, ao purificar o templo, Jesus atacou o espírito secularizado dos judeus, expôs sua corrupção e ganância e atacou seu espírito antimissionário, pois o Pátio dos Gentios havia sido construído para que estes pudessem adorar o Deus de Israel (Mc 11.17), mas Anás e seus filhos o estavam usando para propósitos pessoais. Isso havia sido planejado como bênção para as nações, e, finalmente, se cumpriu a profecia messiânica (SI 69 e Ml 3). Jesus tocou no bolso dos sacerdotes que governavam o templo. Por isso, eles se tornaram inimigos cruéis. Foram os sacerdotes administradores do templo que prenderam Jesus e o levaram à morte. De fato, o zelo da casa de Deus o consumiu!

Em segundo lugar, a casa de Deus é lugar de contemplar Jesus, o verdadeiro santuário de Deus entre os homens (2.18­ 22). Jesus não apenas purificou o templo, mas também o substituiu, cumprindo seus propósitos. Quando pediram a Jesus um sinal de sua autoridade, ele deu como exemplo sua morte e ressurreição. A morte e a ressurreição de Jesus são os argumentos mais eloquentes e decisivos em favor de sua pessoa divina e de sua missão redentora. Jesus veio para substituir o templo. Sua morte varreu dos altares os animais do sacrifício. Com sua morte e ressurreição, cessaram todos os sacrifícios cerimoniais. Ele veio para oferecer um único e irrepetível sacrifício. Ele morreu pelos nossos pecados e ressuscitou para a nossa justificação. Agora, a verdadeira adoração não tem mais que ver com a geografia do templo. Devemos adorar a Deus em espírito e em verdade.

Com sua vinda, Jesus estava colocando fim a toda forma de adoração arranjada pelos homens, colocando em seu lugar a adoração espiritual. A ameaça de Jesus era: A adoração de vocês com pomposos rituais, incensos aromáticos e pródigos sacrifícios de animais chegou ao fim. Eu sou o novo templo, onde pessoas do mundo inteiro podem vir e adorar o Deus vivo em espírito e em verdade.45

Carson corrobora essa ideia:

E o corpo humano de Jesus que unicamente manifesta o Pai e torna-se o ponto focal da manifestação de Deus ao homem, a habitação viva de Deus sobre a terra, o cumprimento de tudo o que o templo significava e o centro de toda a verdadeira adoração (contra todas as outras reivindicações de lugar santo). Nesse templo, o sacrifício definitivo aconteceria; após três dias de sua morte e sepultamento, Jesus Cristo, o verdadeiro templo, levantar-se-ia dos mortos.46

Os judeus e até mesmo os discípulos não compreenderam a linguagem de Jesus. E à luz da ressurreição que podemos entender a Bíblia e interpretar as palavras e afirmações de Cristo. Erdman diz que, como a morte de Jesus envolvia a destruição do templo literal e o respectivo culto, da mesma forma a sua ressurreição asseguraria a ereção de um santuário espiritual, mais verdadeiro, que era sua igreja. Desse modo, em lugar de um ritual de fórmulas, sombras e tipos, erigir-se-ia uma religião de culto mais verdadeiro e de comunhão mais real com Deus. Werner de Boor é oportuno quando escreve:

O verdadeiro e incontestável “sinal” da autoridade de Jesus, apesar de todos os demais milagres, é — tanto em João quanto nos sinóticos (Mt 12.38-40) – que ele rendeu dessa maneira sua vida e que receberá de volta dessa maneira, pela ressurreição dentre os mortos, a sua vida e sua glória. Somente a morte de Jesus e sua ressurreição hão de demonstrar seu poder divino de uma maneira tal que surja a fé em Jesus até entre as fileiras dos sacerdotes (At 6.7).48

Herodes, o Grande, mandou substituir o pequeno templo construído após o cativeiro babilónico (Ag 2.1-3) por um edifício suntuoso e magnificente no ano 20 a.C. Esse magnífico templo ainda não estava plenamente concluído na época de Jesus, o que só aconteceu no ano 64 d.C.49 Já se haviam passado 46 anos que a obra estava em andamento. Os judeus ressaltaram esse fato. As palavras de Jesus não foram compreendidas por eles nem mesmo pelos discípulos. Pensaram que Jesus estivesse falando de uma conspiração para derrubar o templo, o centro da adoração judaica. Viram-no como um revolucionário iconoclasta. Acusaram-no diante do Sinédrio fazendo menção desse caso (Mt 26.59-61). Alguns do povo usaram essas palavras para zombar de Jesus, quando ele morria na cruz (Mt 27.40). Os inimigos de Jesus e até seus discípulos não conseguiram ver o antítipo no tipo; ou, pelo menos, não discerniram que o físico simbolizava o espiritual. O templo, junto com toda a sua mobília e suas cerimônias, era somente um tipo, destinado à destruição (SI 40.6,7; Jr 3.16).50

O evangelho de João usou várias figuras para enfatizar a morte de Cristo. A primeira delas está em João 1.29, mostrando Jesus como o Cordeiro de Deus que morre substitutivamente pelo seu povo. A segunda é a figura da destruição do templo, evidenciando que sua morte violenta terminaria em ressurreição vitoriosa (2.19). A terceira figura é a da serpente de bronze erguida por Moisés no deserto (3.14), mostrando o Salvador feito pecado por nós. A quarta figura mostra Jesus como o bom pastor que voluntariamente dá sua vida por suas ovelhas (10.11-18). Finalmente, temos a figura da semente que precisa morrer para frutificar abundantemente (12.20-25). Se o corpo de Cristo é o templo que foi destruído em sua morte, Jesus estava profetizando o fim do sistema religioso judaico. O sistema legal chegou ao fim, e a “graça e a verdade” vieram por meio de Cristo. Ele é o novo sacrifício (1.29) e o novo templo (2.19). A nova adoração dependerá da integridade interior, e não da geografia exterior (4.19-24).51

Em terceiro lugar, a onisciência de Jesus manifestada no conhecimento dos corações (2.23-25)

A atuação pública de Jesus não começa na Galileia, mas em Jerusalém, a capital da religião judaica. Muitas pessoas, ao verem seus milagres operados em Jerusalém, naqueles sete dias de festa da Páscoa, creram nele, mas com uma fé deficiente e insuficiente. Até mesmo Nicodemos, um mestre entre o povo, ficou impactado com os sinais operados por Jesus (3.2). Carson diz que, infelizmente, a fé que eles tinham era espúria, e Jesus sabia disso. Diferentemente de outros líderes religiosos, Jesus não podia ser enganado por bajulação, seduzido por elogios ou surpreendido por ingenuidade.

O problema é que essas pessoas viram Jesus apenas como um operador de milagres. Creram nele apenas para as coisas desta vida. Não acreditaram nele como o Cristo, Filho de Deus. Jesus conhecia os corações e sabia que essa fé temporária não era a fé salvadora. Concordo com Warren Wiersbe quando ele diz: “Uma coisa é reagir a um milagre; outra bem diferente é assumir um compromisso com Jesus Cristo e permanecer em sua palavra (8.30,31)”. Tasker é claro nesse ponto: “Embora eles cressem em Jesus, Jesus não cria neles. Jesus não tinha fé na fé deles. Jesus considerou toda a crença que depositavam nele como algo superficial, desprovida do mais essencial elemento, a necessidade de perdão e a convicção de que Jesus somente é o mediador do perdão”.

Werner de Boor tem razão em ressaltar que Jesus “conhece” não apenas Natanael, vendo-o numa hora especial de sua vida (1.47-49), mas conhece “todos”, todos em Jerusalém que estão entusiasmados com seus milagres e “confiam” nele, mas enganam a si mesmos e não sabem qual é a sua verdadeira situação.

MacArthur alerta do perigo de confundir a fé salvadora com a fé espúria. A diferença entre a fé espúria e a fé salvadora é crucial. E a diferença entre a fé viva e a fé morta (Tg 2.17); entre o ímpio que irá para a condenação e o justo que entrará na vida eterna (Mt 25.46), entre aqueles que ouvirão: Muito bem, servo bom e fiel […] participa da alegria do teu senhor! (Mt 25.21) e aqueles que ouvirão: Nunca vos conheci; afastai-vos de mim, vós que praticais o mal (Mt 7.23).56

Jesus não pode confiar-se aos homens; pode apenas morrer por eles. Entre Jesus e nós, há uma grande distância. Ele conhece o nosso coração e as nossas motivações. E não se deixa enganar. Ele jamais confunde trigo com joio, pois conhece verdadeiramente suas ovelhas.

Texto extraído do Comentário de João do Pr. Hernandes D. Lopes

O PODER LIBERTADOR DO EVANGELHO

 

Mt 9.9-17

Josh McDowell se converteu depois de ser desafiado a investigar as evidências contra o cristianismo durante a faculdade.

Criado por um pai agressivo e abusado sexualmente desde os 6 anos de idade, Josh McDowell não tinha motivos para acreditar em Deus. Sua história começou a mudar depois que ele foi desafiado por estudantes cristãos de sua faculdade a investigar as evidências contra o cristianismo.

“Especificamente, eles me desafiaram a investigar as evidências da ressurreição. Eu pensei que era brincadeira. De fato, achei que seria fácil reunir as evidências que refutavam as afirmações de Cristo. Como gosto de um bom desafio, aceitei a oferta deles”, disse ele.

McDowell levou o desafio tão a sério que saiu de férias da universidade e viajou pelos Estados Unidos, Europa e Oriente Médio para estudar os manuscritos antigos e reunir provas contra o cristianismo.

“Após meses de estudo, voltei a uma pequena biblioteca na Inglaterra. Me recostei na cadeira, coloquei minhas mãos na parte de trás da cabeça e disse: ‘É verdade, realmente é verdade’”, reconheceu.

Quando McDowell voltou para a faculdade, sua busca chegou a uma conclusão. “Desnecessário será dizer que a minha pesquisa tomou um rumo inesperado. Eu me propus a desmentir a ressurreição histórica de Jesus, mas acabei me tornando um seguidor de Cristo”, destaca.

Depois que Jesus perdoa e cura um paralítico, mandando-o de volta para sua casa, ele convoca um homem rejeitado e odiado em Israel a deixar seu trabalho e segui-lo. Tanto em Marcos 2.14 quanto em Lucas 5.27, Mateus recebe o nome de Levi, embora este não ocorra em nenhuma das listas dos doze apóstolos (10.3; Mc 3.18; Lc 6.15; At 1.13). Ou Mateus é nome que se deu a Levi, quando se tornou discípulo, ou ambos os nomes pertencem à mesma pessoa, desde o começo.

A passagem em apreço ensina-nos algumas lições, como vemos a seguir.

1-NO EVANGELHO  CONTEMPLAMOS A GRAÇA DE JESUS AOS REJEITADOS (9.9)

 Jesus está ainda em Cafarnaum, cidade aduaneira, no caminho de Damasco para o Egito, rota por onde passavam grandes caravanas com suas mercadorias. Ali, Mateus tinha seu posto de coletoria. Ele cobrava impostos sobre os produtos que trafegavam por essa rota comercial, além de cobrar impostos dos barcos que cruzavam o lago para sair do território de Herodes. Os publicanos eram uma classe odiada em Israel. Trabalhavam para o império romano e, no exercício dessa profissão, extorquiam o povo, cobrando mais do que o estipulado. Eram vistos pelos judeus como traidores da pátria. Eram considerados gentios e pagãos por seus compatriotas. Tinham um enorme desfavor público. A. T. Robertson diz que os publicanos eram detestados porque praticavam extorsão.

Robert Mounce ajuda-nos ainda a compreender essa realidade, com as seguintes palavras:

Nos dias de Jesus os romanos impuseram pesados impostos sobre o povo, para todo tipo de coisas. Além dos três principais impostos (territorial, de renda e per capita), havia impostos sobre todas as mercadorias importadas. Todas as caravanas que utilizavam as principais estradas e todos os navios que aportavam eram taxados. Mateus era membro de um grupo desprezadíssimo de funcionários que cobravam impostos do povo judeu, entregando-os a Herodes Antipas, o tetrarca da Galileia e Pereia. Mateus com certeza instalara seu escritório à beira da grande estrada que ligava Damasco ao mar.

É a esse homem odiado pelo povo que Jesus chama para segui-lo. É a esse homem colaboracionista do império romano que Jesus convoca para ser um apóstolo. E esse homem que amealha riquezas cobrando pesados tributos ao povo que escreve o primeiro evangelho. A graça de Deus é surpreendente: alcança os inalcançáveis. Abre a porta da salvação para os rejeitados. John MacArthur Jr. diz que, segundo o padrão de seus dias, Mateus era o pecador mais vil e mais miserável em Cafarnaum. Sendo um publicano, era uma ferramenta voluntária a serviço do governo de Roma, ocupado com a tarefa odiosa de arrancar de seu próprio povo o dinheiro dos impostos. Mateus era visto como um traidor de Israel. Os publicanos não podiam entrar na sinagoga. Eram considerados animais imundos e tratados como porcos. Não podiam servir de testemunhas em nenhum julgamento, porque não eram de confiança. Eram contados como mentirosos, ladrões e assassinos. A tradição rabínica dizia que era impossível a um homem como Mateus arrepender-se.

Jesus não argumenta com Mateus; apenas ordena que ele o siga. O Senhor tem autoridade e a exerce. Sua voz é poderosa. Sua vontade é soberana.

Mateus não questiona nem adia sua decisão. Atende ao chamado de Jesus imediatamente. O texto diz: Ele se levantou e o seguiu. Oh, quão glorioso é o poder de Jesus para transformar homens da pior estirpe em vasos de honra! John Charles Ryle diz, corretamente, que Mateus atendeu prontamente ao chamado de Jesus e em consequência recebeu uma grande recompensa. Ele escreveu um dos evangelhos, um livro que se tornou conhecido em todo o mundo. Tornou-se uma bênção para outras pessoas. Deixou atrás de si um nome que é mais conhecido do que o nome de príncipes e reis. O homem mais rico do mundo, ao morrer, logo é esquecido. Porém, enquanto durar o mundo, milhões de pessoas conhecerão o nome de Mateus, o publicano.5 291 M ateus — Jesus, o Rei dos reis

2-O EVANGELHO ABRE AS PORTAS DA GRAÇA AOS QUE SE RECONHECEM PECADORES (9.10-13)

 Mateus não se contenta em seguir Jesus. Ele quer apresentar Jesus a seus amigos. Oferece um banquete a Jesus e convida seus amigos para um encontro com o seu senhor. Sua casa se enche de publicanos e pecadores. Quem é alcançado pela graça, não retém esse privilégio apenas para si. Quem foi alcançado, é também um enviado. Quem achou pão com fartura, anuncia isso a outrem.

 Os convidados de Mateus não eram pessoas respeitáveis aos olhos dos fariseus. Eram a escória da sociedade. As pessoas mais desprezadas da comunidade. Não podiam participar da sinagoga nem testemunhar nos tribunais. Os fariseus, como fiscais alheios, não perderam a oportunidade de participar também desse encontro. Estão ali para censurar Jesus mais uma vez. Se no caso do paralítico eles acusaram Jesus de blasfemar, colocando-se como Deus, agora o acusam de ter comunhão com pecadores e publicanos, a escória da sociedade (9.11).

 Lawrence Richards diz que a literatura rabínica contém diversas listas de profissões desprezadas. Proeminentes entre os proscritos, sociais, estavam os cobradores de impostos, ou publicanos, que obtinham o seu direito de cobrar impostos mediante urna oferta de dinheiro e depois extorquiam mais dinheiro do que era devido, para enriquecerem. Na cartilha dos fariseus, a graça era apenas para pessoas decentes como eles e jamais para pecadores e publicanos. Jesus, porém, como médico do corpo e da alma, via-se compelido a entrar em estreito contato com os desterrados sociais.Tom Hovestol está correto quando escreve: “O ápice de considerar-me justo é condenar os outros pelos pecados de minha alma”.

Jesus responde aos fariseus com ironia, mostrando que não eram os sãos que precisavam de médico, mas, sim, os doentes. Os sãos eram os fariseus, que viam a si mesmos como não padecendo nenhuma necessidade, embora a verdadeira condição deles fosse bem o contrário. Os doentes eram os marginalizados que reconheciam a necessidade de cura.

Jesus ensina, portanto, que só aqueles que se reconhecem doentes procuram um médico. Da mesma forma, só aqueles que se reconhecem pecadores buscam o abrigo de sua graça. Os fariseus se consideravam sãos e justos e, por isso, rejeitavam a graça. Jesus ainda ensina que a religiosidade pomposa daqueles que se consideram justos não é aceita por Deus. Ao contrário, Deus quer misericórdia, e não holocaustos. A citação é de Oseias 6.6. O ministério de Jesus entre os cerimonialmente inaceitáveis é um ato de misericórdia, algo que agrada mais a Deus do que a atenção cansativa devotada pelos fariseus às ofertas sacrificiais.

John MacArthur Jr. diz que a resposta de Jesus é um poderoso argumento triplo: apela para a experiência (ao comparar os pecadores a enfermos que precisam de um médico); para as Escrituras, fazendo voar pelos ares o orgulho dos fariseus, ao dizer-lhes: Ide, porém, e aprendei (9.13); e para sua autoridade pessoal, ao declarar: Não vim chamar justos e sim pecadores [ao arrependimento] (9.13; v. tb. Lc 3.32). É como se Jesus dissesse:

“Vocês afirmam que são justos, e recebo isso como uma autoavaliação. Mas, se é esse o caso, nada tenho a dizer-lhes, pois vim chamar pecadores ao arrependimento”.

Tom Hovestol diz oportunamente que, se entendermos corretamente o ataque que Jesus desferiu à tradição dos fariseus, a forma com que esmagou seu sistema, como ele destruiu as cercas que eles ergueram, como expôs a insinceridade velada deles, é fácil perceber de que maneira esse grupo passou a desprezá-lo. Na mente desses fariseus legalistas, eles eram justos e bons, enquanto os demais homens eram injustos e maus. Porém, nenhum homem pode ser realmente bom até que saiba quanto é mau ou quanto poderia sê-lo. Nenhum homem é bom até que tenha espremido de sua alma a última gota do óleo dos fariseus.

3-O EVANGELHO ABRE AS PORTAS DA GRAÇA PARA UMA VIDA DE JUBILOSA CELEBRAÇÃO (9.14,15)

No parágrafo anterior, a questão era se Jesus deveria estar comendo com marginais; agora a questão é se ele devia comer. Jesus está sendo questionado agora não mais pelos fariseus, mas pelos discípulos de João. Os discípulos querem saber por que eles jejuam, mas os discípulos de Jesus não o fazem. Ao responder, Jesus reafirma que o jejum é um exercício espiritual legítimo e que chegará o dia em que seus discípulos jejuarão, mas agora, enquanto está com eles, estão como numa festa de casamento, e esse não é um tempo para jejuar, mas para celebrar. A vida cristã não é um funeral, mas uma festa. Não é um rosário de tristeza, mas uma celebração de alegria.

Charles Spurgeon, nessa mesma toada, diz que Jesus é o esposo que veio para conquistar e ganhar sua noiva; aqueles que o seguiam eram os convidados, os melhores companheiros do noivo; eles deveriam regozijar-se enquanto o noivo estivesse com eles, pois a tristeza não é adequada para as bodas. Nosso Senhor é a nossa alegria; sua presença é o nosso banquete. Em sua presença, há plenitude de alegria; em sua ausência, há profundidade de miséria.

4-O EVANGELHO ABRE AS PORTAS DA GRAÇA PARA URNA VIDA TOTALMENTE NOVA (9.16,17)

 Robert Mounce diz que as duas ilustrações da vida diária salientam a descontinuidade essencial entre as antigas formas de adoração no judaísmo e o novo espirito da era messiânica. No contexto, o pano novo e o vinho fresco representam o espirito alegre do cristianismo. O vestuário velho e os odres também velhos representam as formas restritivas do antigo culto.  Vejamos.

Em primeiro lugar, a vida cristã não é uma mera reforma, mas uma vida absolutamente nova (9.16). A vida cristã não é um remendo novo numa estrutura velha. Não é a reforma de uma casa velha nem um verniz de religiosidade numa estrutura podre. O evangelho produz uma mudança radical. A graça é transformadora. Faz do pecador uma nova criatura. Tudo se faz novo. Charles Spurgeon é oportuno quando escreve:

Jesus não veio para reparar o manto desgastado de Israel, mas para trazer novas vestes .Seus discípulos não deveriam reparar a velha religião do judaísmo, que se tornou desgastada. Eles eram homens novos, que não haviam sido escolhidos pelo espírito da tradição […]. Jesus não veio para consertar nossa velha religiosidade exterior, mas para fazer um novo manto de justiça para nós. Todas as tentativas de adicionar o evangelho ao legalismo somente servirão para piorar as coisas.

Em segundo lugar, a vida cristã não pode ser acondicionada numa estrutura arcaica (9.17).

O farisaísmo com o seu legalismo pesado era como um odre velho, que não podia suportar o vinho novo da mensagem do reino dos céus. O poder do evangelho não pode ser aprisionado em velhas e arcaicas estruturas eclesiásticas. O vinho novo da vida cristã rompe os odres velhos das tradições religiosas. Charles Spurgeon, nessa mesma linha de pensamento, diz que o judaísmo, em sua condição degenerada, era um odre velho que já havia passado de seu prazo de utilidade, e nosso Senhor não deitaria o vinho novo do reino dos céus nele.

Tasker diz que o vinho novo do perdão messiânico não seria conservado nos remendados odres do legalismo judaico. Concordo com Richards quando ele diz que nossas categorias teológicas não devem nunca ter a mesma autoridade que as Escrituras. A medida que cada geração enfrenta novos desafios, precisamos retornar à Palavra de Deus, pedindo ao Espírito Santo que abra nosso coração e nossa mente para compreender a aplicar sua verdade.

Fritz Rienecker diz, com razão, que essa palavra de Jesus tem máxima importância para todos os tempos. Mostra-nos quanto o Senhor ressaltou a importância da forma para o conteúdo. Revela com que clareza o Senhor reconheceu como imprescindível que a forma do cristianismo corresponda à sua natureza interior. Ou seja, não se pode colocar a forma acima da vida nem prender obstinadamente o espírito exuberante pela organização.

segunda-feira, 27 de junho de 2022

XL REUNIÃO ORDINÁRIO DO SUPREMO CONCÍLIO DA IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL

 


A Mesa do Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil – SC/IPB, sob a presidência do Rev. Roberto Brasileiro Silva, reuniu-se no dia 16 de setembro de 2021, na Igreja Presbiteriana da Bahia, em Salvador, BA, com a finalidade de dar curso à resolução SC 2018 – Doc. CIX. 

Sendo assim, por ordem do Presidente do SC/IPB, convoco os Deputados dos Presbitérios da Igreja Presbiteriana do Brasil para a XL Reunião Ordinária do SC/IPB, que terá lugar nas dependências da Igreja Presbiteriana de Cuiabá, à Av. Historiador Rubens Mendonça 6015, Morada da Serra, Cuiabá, MT, de 24 a 31 de julho de 2022. 

A presente convocação igualmente se estende a todos os Órgãos, Juntas, Conselhos, Comissões e Autarquias, por intermédio de seus lídimos representantes, observando-se o que segue: 

Programação Dia 24, Domingo, chegada dos conciliares, com acesso à hospedagem nos hotéis da cidade de Cuiabá a partir das 14h, seguida de Culto de Adoração a Deus, às 18h, no Templo da Igreja Presbiteriana de Cuiabá. Às 20h, haverá um Jantar de boas-vindas. 

Dia 25, Segunda-feira, às 8h, Ato de Verificação de Poderes, seguido da Sessão Preparatória. Encerrada a Sessão Preparatória, será aberta a Primeira Sessão Regular. Dias 26 a 30, Sessões Regulares Dia 31, Domingo, Culto de Gratidão a Deus, às 10h, seguido de almoço de encerramento da Reunião Ordinária. 

Link para redirecionamento CARTA PARA REV (executivaipb.com.br)

Link para o Hotsite do Evento

PRIVILÉGIOS DOS FILHOS DE DEUS

 

Oração do Vencedor

João 17

Muitos estudiosos que procuram conciliar os relatos dos quatro Evangelhos acreditam que Jesus fez a oração registrada em João 17 ainda no cenáculo, quando terminou de instruir os discípulos. Em seguida, ele e os discípulos cantaram os salmos tradicionais da Páscoa, saíram do cenáculo e se dirigiram para o jardim do Getsêmani, onde Jesus costumava reunir-se com eles e orar (ver Mt 36:30-46 e Mc 14:26-42).

Quer tenha feito essa oração no cenáculo, quer a caminho do jardim, uma coisa é certa: trata-se da oração mais magnífica feita aqui na Terra e registrada em todas as Escrituras. João 17 é, sem dúvida alguma, o “Santo dos santos” do registro dos Evangelhos, e devemos abordar este capítulo com espírito de humildade e de adoração. Que privilégio enorme ouvir Deus, o Filho, conversar com o Pai quando está prestes a dar a vida como resgate pelos pecadores!

 Apesar de tudo o que ocorreu posteriormente naquela noite, esta oração deixa claro que Jesus foi e é o Vencedor. Não foi uma “vítima”; ele foi e continua sendo o Vitorioso. Encorajou seus discípulos dizendo: “Tende bom ânimo; eu venci o mundo” (Jo 16:33). A palavra mundo é usada dezenove vezes nesta oração, de modo que é fácil ver como se encontra relacionada a João 16:33. Se compreendermos e aplicarmos as verdades reveladas nesta oração profunda, ela permitirá que também sejamos vencedores.

 Não é difícil observar a progressão do raciocínio nesta oração. Em primeiro lugar, Jesus ora por si mesmo e diz ao Pai que concluiu sua obra aqui na Terra (Jo 17:1-5). 18 Em seguida, ora por seus discípulos, pedindo ao Pai que os guarde e santifique (Jo 1 7:6­ 19). Termina orando por nós e pela Igreja toda, para que possamos ser unidos nele e para que, um dia, participemos de sua glória (Jo 1 7:20-26).

Por que Jesus fez essa oração? Sem dúvida, se preparava para os sofrimentos que se encontravam diante dele. Ao contemplar a glória que o Pai lhe prometeu, deve ter recebido forças para seu sacrifício (Hb 12:1­ 3). No entanto, Jesus também pensava em seus discípulos (Jo 17:13). Essa oração deveria ter sido um grande estímulo para eles. Jesus orou pela segurança, pela alegria, pela união e pela glória futura de seus discípulos. Também orou por nós, para que soubéssemos de tudo o que fez por nós, tudo o que nos deu e tudo o que fará por nós quando chegarmos ao céu.

Nesta oração, Jesus declara quatro privilégios maravilhosos que temos como filhos de Deus, privilégios estes que contribuem para nos tornarmos vencedores.

. COMPARTILHAMOS DE SUA VIDA (Jo 17:1-5) Jesus começou orando por si mesmo, mas, ao fazê-lo, também orava por nós. “Uma oração por si mesmo não é, necessariamente, uma oração egoísta”, escreveu R. A. Torrey, e um estudo das orações da Bíblia mostra que isso é verdade. A prioridade de Jesus era a glória de Deus, e essa glória seria concretizada em sua obra consumada na cruz. O servo de Deus tem todo o direito de lhe pedir a ajuda de que necessita para glorificar seu nome. “Santificado seja o teu nome” é o primeiro pedido da oração do Pai Nosso (Mt 6:9) e a primeira tônica dessa oração.

As palavras “Pai, é chegada a hora” lembram as muitas vezes que o Evangelho de João menciona “a hora”, começando por João 2:4. Enquanto estava aqui na Terra, Jesus viveu de acordo com um “cronograma divino” e sabia que estava dentro da vontade do Pai. “Nas tuas mãos, estão os meus dias” (SI 31:15).

 Glória também é uma palavra importante na oração sacerdotal, aparecendo cinco vezes nestes versículos. Devemos fazer uma distinção cuidadosa entre as diversas “glórias” sobre as quais Jesus fala. Em João 17:5, se refere a sua glória preencarnada, quando estava junto do Pai, a glória que colocou de lado quando veio à Terra para nascer, servir, sofrer e morrer. Em João 1 7:4, relata ao Pai sua vida e seu ministério na Terra e lhe dá glória, pois ele (Jesus) concluiu a tarefa da qual o Pai o havia incumbido. Em João 17:1 e 5, Jesus pede que sua glória preencarnada lhe seja restituída, de modo que o Filho glorifique o Pai ao voltar para o céu.

 O termo glória é usado oito vezes na oração toda, de modo que constitui um tema relevante. Por certo, Jesus glorificou o Pai em seus milagres (Jo 2:11; 11:40), mas o Pai foi ainda mais glorificado por meio dos sofrimentos e da morte do Filho (ver Jo 12:23­ 25; 13:31, 32). De nosso ponto de vista, o Calvário foi uma demonstração repulsiva do pecado humano; mas do ponto de vista de Deus, a cruz revelou e magnificou a graça e a glória de Deus. Jesus anteviu sua volta ao céu quando disse: “[Consumei] a obra que me confiaste para fazer” (Jo 1 7;4). Essa obra incluía suas mensagens e milagres na Terra (Jo 5:17-19), a preparação dos discípulos para seu futuro ministério e, acima de tudo, o sacrifício na cruz (Hb 9:24-28; 10:11-18).

É com base nessa “obra consumada” que nós, como cristãos, recebemos a dádiva da vida eterna (Jo 1 7:2, 3). O verbo dar e suas conjugações aparecem nesta oração pelo menos dezessete vezes. Em sete ocasiões, Jesus afirma que os cristãos são dádivas do Pai para o Filho (Jo 17:2, 6, 9, 11, 12, 24). Estamos acostumados a pensar no Filho como uma dádiva de amor do Pai para nós (Jo 3:16), mas Jesus afirma que os cristãos são a “dádiva de amor” do Pai para o Filho querido!

 “A vida eterna” é um tema importante do Evangelho de João, sendo mencionada dezessete vezes. É uma dádiva gratuita de Deus para os que crêem em seu Filho (Jo 3:15, 16, 36; 6:47; 10:28). O Pai deu ao Filho a autoridade de conceder vida eterna aos que o Pai entregou ao Filho. Do ponto de vista humano, recebemos a dádiva da vida eterna quando cremos em Jesus Cristo. Mas, do ponto de vista divino, já fomos entregues ao Filho na eleição divina eterna. Trata-se de um mistério que a mente humana não é capaz de entender nem explicar; resta-nos, portanto, aceitá-lo pela fé.

 O que é a “vida eterna”? É conhecer a Deus pessoalmente. Não apenas saber coisas sobre ele, mas ter um relacionamento pessoal com ele pela fé em Jesus Cristo. Não podemos conhecer o Pai sem o Filho (Jo 14:6­ 11). Não basta simplesmente “crer em Deus”; em hipótese alguma essa convicção é capaz de salvar uma alma da condenação eterna. “Até os demônios crêem e tremem” (Tg 2:19). A discussão de Jesus com os líderes judeus (Jo 8:12ss) deixa claro que as pessoas podem ser sinceramente religiosas e, ainda assim, não conhecer a Deus. A vida eterna não é algo merecido pelo próprio caráter ou conduta; é uma dádiva que recebe quem reconhece que é pecador, arrepende-se e crê única e exclusivamente em Jesus Cristo.

 O Pai atendeu ao pedido de seu Filho e lhe deu glória. Hoje, no céu, há um Homem glorificado, o Deus Homem, Jesus Cristo! Pelo fato de ele ter sido glorificado no céu, os pecadores podem ser salvos na Terra. Todo o que crer em Jesus Cristo receberá a dádiva da vida eterna.

 Uma vez que compartilhamos de sua vida, somos vencedores, pois também participamos de sua vitória! “Porque todo o que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé” (1 Jo 5:4). Nosso primeiro nascimento foi “em Adão” e nascemos derrotados. Em nosso novo nascimento pela fé em Cristo, nascemos vencedores.

Satanás tentou encobrir a verdade preciosa da obra consumada de Jesus Cristo, pois sabe que é o fundamento da vitória espiritual. “Eles, pois, o venceram [Satanás] por causa do sangue do Cordeiro” (Ap 12:11). Não devemos permitir que Satanás tire de nós o poder de vencer pela obra consumada de Cristo.

2 . CONHECEMOS SEU NOME ( jo 17:6 -12 ) Cristo deu aos seus a vida eterna (Jo 1 7:2), mas também lhes deu a revelação do nome do Pai (Jo 17:6). No Antigo Testamento hebraico, Deus é chamado de “Jeová”, o grande eu sou (Êx 3:11-14). Jesus tomou o nome sagrado, “Eu Sou”, e o transformou em uma designação expressiva para seus discípulos: “eu sou o pão da vida” (Jo 6:35); “Eu sou a luz do mundo” (Jo 8:12); “Eu sou o bom pastor” (Jo 10:11), etc. Em outras palavras, Jesus revelou o nome do Pai ao mostrar a seus discípulos que ele era tudo de que precisavam.

 Mas o nome do Pai é ainda mais abrangente, pois Jesus também ensinou aos discípulos que Deus – o grande Eu Sou – era seu Pai celestial. O termo Pai é usado 44 vezes em João 13al7e106 vezes no Evangelho de João! Em suas mensagens para os judeus, deixou claro que o Pai o havia enviado, que ele era igual ao Pai e que suas palavras e obras eram provenientes do Pai. Foram declarações inequívocas de sua divindade, mas se recusaram a crer.

Na Bíblia, o “nome” refere-se à “natureza”, pois muitas vezes os nomes são dados para revelar algo especial sobre a natureza da pessoa que recebe a designação. Jacó era dado a intrigas, e seu nome vem do radical hebraico que significa “pegar pelo calcanhar”, isto é, fazer tropeçar, enganar (Gn 25:26). O nome Isaque quer dizer “riso” (Gn 21:6), pois o menino trouxe alegria a Abraão e a Sara. Até mesmo o nome de Jesus revela que ele é o Salvador (Mt 1:21).

 A declaração: “manifestei o teu nome” significa “revelei a natureza de Deus”. Um dos ministérios do Filho era revelar o Pai (Jo 1:18). O termo grego traduzido por “manifestar” significa “desdobrar, conduzir, mostrar o caminho”. Jesus não revelou o Pai instantaneamente, em um esplendor de glória, pois seus discípulos não poderiam ter suportado tal experiência. Aos poucos, por meio de suas palavras e atos, ele lhes revelou a natureza de Deus, à medida que se mostraram capazes de assimilá-la (Jo 16:12).

 A ênfase desta seção é sobre a segurança do cristão; Deus guarda os seus (Jo 17:11-12). Nossa segurança depende da natureza de Deus, não de nosso próprio caráter ou conduta. Quando estava na Terra, Jesus guardou seus discípulos, que podiam depender dele. “Guardava-os no teu nome” (Jo 1 7:12). Se o Salvador, limitado num corpo humano, foi capaz de guardar os seus enquanto estava aqui na Terra, acaso não poderia guardá-los agora que se encontra glorificado no céu? O Filho e o Pai, com o Espírito Santo, certamente são capazes de guardar e de proteger o povo de Deus!

 Além disso, o povo de Deus é a dádiva do Pai para seu Filho. Acaso o Pai daria ao Filho um presente que não fosse duradouro? Os discípulos haviam pertencido ao Pai pela criação e pela aliança (pois eram judeus), mas agora pertenciam ao Filho. Somos extremamente preciosos a seus olhos! Ele cuida de nós e, neste exato momento, está orando por nós! Sempre que nos sentirmos abandonados pelo Senhor ou que pensarmos que seu amor está distante, podemos ler Romanos 8:28-39 e nos regozijar!

 Nossa segurança também se baseia no fato de estarmos aqui para glorificar ao Senhor (Jo 17:10). Com todas as suas imperfeições e deficiências, os discípulos receberam uma palavra de louvor: “Neles, eu sou glorificado”. Por certo, Deus não seria glorificado se um dos seus, que creu no Salvador, não chegasse ao céu. Esse foi o argumento de Moisés quando a nação de Israel pecou: “Por que hão de dizer os egípcios: Com maus intentos os tirou, para matá-los nos montes e para consumi-los da face da terra?” (Êx 32:12). Sem dúvida, Deus conhece todas as coisas, então por que salvar os que ele sabe que vão fracassar ao longo do caminho? Deus termina o que começa (Fp 1:6).

 Deus proveu os recursos divinos para que possamos glorificá-lo e ser fiéis. Temos sua Palavra (Jo 17:7, 8), e ela nos revela tudo o que possuímos em Jesus Cristo. A palavra dá fé e segurança. Temos o Filho de Deus intercedendo por nós (Jo 1 7:9; Rm 8:34; Hb 4:14-16). Uma vez que o Pai sempre responde às orações do Filho (Jo 11:41, 42), este ministério intercessor ajuda a nos manter seguros e protegidos.

 Também temos a comunhão da igreja: “para que eles sejam um, assim como nós” (Jo 17:11). O Novo Testamento não diz coisa alguma sobre cristãos isolados; onde quer que encontrem os cristãos, os vem os em comunhão. Isso porque todos do povo de Deus precisam uns dos outros. Jesus começou sua mensagem no cenáculo lavando os pés dos seus discípulos e lhes ensinado a ministrar uns aos outros. Nas horas subsequentes, esses homens (inclusive Pedro, tão seguro de si!) descobriram como eram fracos e quanto precisavam do encorajamento uns dos outros.

 Assim, os cristãos estão seguros em Cristo por vários motivos: a própria natureza de Deus, a natureza da salvação, a glória de Deus e o ministério intercessor de Cristo. Mas e quanto a Judas? Estaria seguro? Com o veio a cair? Por que Jesus não o guardou? Pelo simples motivo de que Judas nunca pertenceu a Cristo. Jesus guardou fielmente todos os que o Pai lhe deu, mas Judas nunca lhe foi dado pelo Pai. Judas não cria em Jesus Cristo (Jo 6:64-71); não havia sido purificado (Jo 13:11); não estava entre os escolhidos (Jo 13:18); não havia sido entregue a Cristo (Jo 18:8, 9).

 Judas não é, de maneira alguma, um exemplo de cristão que “perdeu a salvação”. Antes, exemplifica um incrédulo que fingiu ser salvo e que, no final, foi desmascarado. Jesus guarda todos os que o Pai lhe dá (Jo 10:26-30).

Somos vencedores, pois compartilhamos de sua vida. Há um terceiro privilégio que nos permite vencer.

 3. TEMOS SUA PALAVRA (JO 1 7 :1 3 -1 9 ) “Eu lhes tenho dado a tua palavra” (Jo 1 7:14, ver também v, 8). A Palavra de Deus é a dádiva de Deus para nós. O Pai deu as palavras ao Filho (Jo 17:8), e o Filho as entregou aos discípulos que, por sua vez, as transmitiram a nós conforme a inspiração do Espírito (2 Tm 3:16; 2 Pe 1:20, 21). A Palavra é de origem divina, é uma dádiva preciosa do céu. Devemos sempre dar à Palavra de Deus o devido valor, pois os cristãos vitoriosos conhecem a Palavra e sabem como usá-la na vida diária.

De que maneira a Palavra de Deus nos permite vencer o mundo? Em primeiro lugar, ela nos dá alegria (Jo 17:13), e essa alegria interior nos dá forças para vencer (Ne 8:10). Costumamos pensar em Jesus Cristo como um “homem de dores” (Is 53:3), o que de fato ele foi; mas também foi uma pessoa de profunda e constante alegria. João 17:13 é o cerne dessa oração, e seu tema é a alegria!

Jesus já havia se referido a sua alegria (Jo 15:11) e explicado que a alegria é decorrente de transformação, não de substituição (Jo 16:20-22). A alegria também vem das orações respondidas (Jo 16:23, 24). Aqui, deixa claro que a Palavra também dá alegria. O cristão não encontra alegria no mundo, mas sim na Palavra. Com o João Batista, devemos nos regozijar grandemente ao ouvir a voz do Noivo (Jo 3:29).

 Não dá para imaginar Jesus andando pela Terra com rosto triste e ar de melancolia. Jesus foi um homem alegre e revelou essa alegria a outros. Sua alegria não era a leviandade passageira do mundo pecaminoso, mas sim o gozo permanente do Pai e da Palavra. Não dependia de circunstâncias exteriores, mas dos recursos espirituais interiores que o mundo não era capaz de ver. É esse tipo de alegria que deseja ver em nossa vida, e só podemos obtê-la pela sua Palavra. “As tuas palavras me foram gozo e alegria para o coração” (Jr 15:16). “Mais me regozijo com o caminho dos teus testemunhos do que com todas as riquezas” (SI 119:14). “Alegro-me nas tuas promessas, com o quem acha grandes despojos” (SI 119:162).

 A Palavra não apenas concede a alegria do Senhor, mas também dá a certeza de seu amor (Jo 17:14). O mundo nos odeia, mas podemos confrontar esse ódio com o amor de Deus, transmitido a nós pelo Espírito por meio da Palavra. O mundo nos odeia porque não pertencem os a seu sistema (Jo 15:18, 19) e nos recusamos a nos conformar com suas práticas e padrões (Rm 12:2). A Palavra revela a verdadeira natureza do mundo e mostra suas ilusões e seus artifícios cheios de perigo.

O mundo deseja tomar o lugar do amor do Pai em nossa vida (1 Jo 2:15-17), mas a Palavra de Deus nos permite desfrutar esse amor. Um dos primeiros passos para uma vida mundana é colocar de lado a Palavra. D. L. Moody escreveu na contracapa de sua Bíblia: “Ou este livro o afastará do pecado ou o pecado o afastará deste livro”. Assim como a coluna de fogo era escuridão para os egípcios, mas luz para Israel, também a Palavra de Deus é luz neste mundo escuro, incapaz de compreender as coisas de Deus (Êx 14:20; 1 Co 2:12-16).

 A Palavra de Deus não apenas traz a alegria e o amor de Deus, mas também transmite o poder de Deus para vivermos em santidade (Jo 1 7:15-1 7). A tônica da oração de Jesus em João 17:6-12 foi a segurança, mas aqui sua ênfase muda para a santidade – uma vida santa prática que glorifica Deus. Estamos no mundo, mas não somos do mundo e não devemos viver como o mundo. Por vezes, achamos que seria mais fácil vivermos fora do mundo, mas isso não é verdade. Para qualquer lugar que vamos, carregamos conosco nosso ser interior pecaminoso e somos seguidos por poderes das trevas. Encontrei gente que se impôs um “isolamento espiritual”, a fim de buscar mais santidade, só para descobrir mais tarde que isso nem sempre funciona.

 A verdadeira santificação (ser separado para Deus) se dá pelo ministério da Palavra de Deus. “Vós já estais limpos pela palavra que vos tenho falado” (Jo 15:3). Ao ser salvos, somos separados para Deus. Ao crescer na fé, experimentamos cada vez mais a santificação. Nosso amor pelo pecado é cada vez menor e nosso amor por Deus é cada vez maior. Desejamos lhe servir e ser bênção a outros. Tudo isso se dá por meio da Palavra.

 A verdade de Deus foi dada em três “edições”; sua Palavra é a verdade (Jo 17:17); seu Filho é a verdade (Jo 14:6); e seu Espírito é a verdade (1 Jo 5:6). Precisamos desses três elementos, a fim de experimentar a verdadeira santificação que toca todas as partes de nosso ser interior. Com a mente, aprendemos a verdade de Deus pela Palavra. Com o coração, amamos a verdade de Deus, seu Filho. Com a volição, nos entregamos ao Espírito e vivemos a verdade de Deus cada dia. É preciso que os três estejam presentes para que a santificação seja equilibrada.

Não basta apenas estudar a Bíblia e aprender uma porção de verdades doutrinárias. Também é preciso amar a Jesus Cristo cada vez mais ao se descobrir tudo o que ele é e tudo o que fez por nós. O aprendizado e o amor devem conduzir à vida prática, permitindo que o Espírito de Deus nos capacite a obedecer à sua Palavra. É assim que glorificamos a Deus neste mundo perverso.

 A Palavra dá alegria, amor e poder para viver em santidade. Também dá o que é preciso para servir a Deus como testemunhas neste mundo (Jo 17:18, 19). A santificação não tem por objetivo o prazer egoísta e a vanglória; antes, serve para que representemos Cristo neste mundo e ganhemos outros para ele. Jesus se separou para nós e, agora, devemos nos separar para ele. O Pai enviou-o ao mundo e, agora, ele nos envia ao mundo. Recebemos ordens e devemos cumpri-las! Jesus encontra-se “separado” no céu, orando por nós, para que nosso testemunho dê frutos, levando muitos ao arrependimento e ao Senhor.

Como ser vencidos pelo mundo quando temos a Palavra de Deus para nos iluminar, capacitar e encorajar?

 4 . COMPARTILHAMOS DE SUA GLÓRIA (Jo 17:20-26) Nesta passagem, Jesus volta nossa atenção para o futuro. Começa a orar por nós, que vivemos hoje, pela Igreja ao longo de todas as eras. Já orou por segurança e por santidade e, agora, enfatiza a unidade. Sua preocupação é que seu povo viva em harmonia espiritual, como o Pai e o Filho são um. Como cristãos, podemos participar de diferentes denominações, mas pertencemos todos ao Senhor e uns aos outros.

 Em várias ocasiões, os discípulos mostraram um espírito de egoísmo, competitividade e desunião e, com isso, devem ter entristecido profundamente o coração do Salvador. Fico imaginando como Jesus se sente quando vê o estado em que a Igreja se encontra hoje. Como escreveu o pregador puritano Thomas Brooks: “A discórdia e a divisão não condizem com cristão algum. Não causa espanto os lobos importunarem as ovelhas, mas uma ovelha afligir outra é contrário à natureza e abominável”.

 Qual é a base para a verdadeira unidade entre os cristãos? A pessoa e a obra de Jesus Cristo e sua glória (Jo 17:2-5). Ele já nos deu sua glória e promete que experimentaremos ainda mais dessa glória quando chegarmos ao céu. Qualquer que seja sua aparência exterior, todos os cristãos sinceros trazem dentro de si a glória de Deus. A harmonia cristã não se baseia nas coisas externas da carne, mas sim nas coisas eternas do Espírito no ser interior. Devemos enxergar além dos elementos do primeiro nascimento – raça, cor, aptidões – e construir a comunhão com base nos elementos essenciais do novo nascimento.

 Já possuímos a glória de Deus dentro de nós (Jo 17:22, ver também Rm 8:29) e, um dia, contemplaremos essa glória no céu (Jo 17:24). À medida que crescemos no Senhor, a glória interior também começa a crescer e a se revelar naquilo que dizemos e fazemos e na forma como falamos e agimos. As pessoas não vêem nosso ser e nos glorificam; vêem e glorificam o ser de Deus (Mt 5:16; 1 C o 6:19, 20).

 Uma das coisas que mais impressionam o mundo é a maneira com o os cristãos amam uns aos outros e vivem em harmonia. É esse testemunho que Jesus deseja no mundo: “para que o mundo creia que tu me enviaste” (Jo 17:21). O mundo perdido não é capaz de ver Deus, mas pode ver os cristãos. Aquilo que o mundo enxergar em nós servirá de base para suas convicções acerca de Deus. Se enxergar amor e harmonia, crerá que Deus é amor. Se enxergar ódio e divisão, rejeitará a mensagem do evangelho.

 Jesus garantiu que alguns crerão por causa de nosso testemunho (Jo 17:20), mas devemos testemunhar em verdade e amor. Em lugar de serem testemunhas fiéis, alguns cristãos são advogados de acusação e juízes e, com isso, afastam os pecadores do Salvador.

Os cristãos têm motivos de sobra para amar uns aos outros e para viver em harmonia. Cremos no mesmo Salvador, compartilhamos da mesma glória e, um dia, desfrutaremos o mesmo céu! Pertencemos ao mesmo Pai e desejamos realizar a mesma obra: testemunhar ao mundo perdido que somente Jesus Cristo pode salvar do pecado. Apesar de diferirmos em questões doutrinárias de menor importância, cremos na mesma verdade e seguimos o mesmo exemplo que Jesus deu a seu povo de modo a viver em santidade. Por certo, os cristãos têm suas diferenças, mas temos muito mais coisas em comum, e isso deve servir de estímulo para amarmos uns aos outros e promovermos a unidade espiritual.

Quando preciso falar num funeral, costumo usar João 1 7:24. Com o sabemos que os cristãos vão para o céu? Temos essa certeza por causa do preço que Jesus pagou (1 Ts 5:9, 10), da promessa que Jesus deu (Jo 14:1­ 6) e da oração que Jesus fez (Jo 1 7:24). O Pai sempre responde às orações do Filho, de modo que sabemos que os cristãos que morrem vão para o céu e contemplam a glória de Deus.

 Não encontramos qualquer petição em João 17:25, 26. Jesus simplesmente relatou ao Pai seu ministério aqui no mundo e fez várias declarações importantes para nós. Afirmou que o mundo não conhece o Pai, mas que os cristãos o conhecem, pois o Filho nos revelou o Pai. O mundo certamente tem inúmeras oportunidades de conhecer o Pai, mas prefere continuar a viver com sua cegueira e dureza de coração. Nossa incumbência como cristãos é dar testemunho ao mundo perdido e compartilhar a mensagem salvadora de Deus.

Jesus também declarou a importância da verdade e do amor na Igreja. Os cristãos conhecem o nome (a natureza) de Deus e compartilham dessa natureza divina. Jesus deixou claro que a verdade e o amor devem andar juntos (ver Ef 4:15). Alguém disse bem que a verdade sem amor é brutalidade e o amor sem verdade é hipocrisia. A mente cresce ao receber a verdade, mas o coração cresce ao dar amor. O conhecimento, por si mesmo, leva ao orgulho (1 Co 8:1), mas o amor, por si mesmo, pode levar a decisões erradas (ver Fp 1:9, 10). O amor dos cristãos não deve ser cego! Ao recapitular esta oração, observamos quais eram as prioridades espirituais no coração do Salvador: a glória de Deus, a santidade do povo de Deus; a unidade da Igreja; o ministério de compartilhar o evangelho com o mundo perdido. Fazemos bem em nos concentrar nessas mesmas prioridades. Um dia, cada um de nós prestará contas de seu ministério. É muito sério saber que daremos um “relatório final” diante do trono de Cristo. Espero que possamos dizer: “Eu te glorifiquei na terra, consumando a obra que me confiaste para fazer” (Jo 1 7:4).

Extraído do Comentário de W. Wiersbe

sábado, 25 de junho de 2022

LIÇÕES DO ENCONTRO DE JESUS COM A MULHER SAMARITANA

 


UM ENCONTRO INCOPARÁVEL

Jo. 4.1-42

Uma vez que os fariseus tentavam provocar uma competição entre Jesus e João Batista (Jo 3:25-30), Jesus saiu da Judéia e se dirigiu para o norte da Galileia. Poderia escolher entre três caminhos para chegar a seu destino: (1) seguindo pela costa; (2) atravessando o Jordão e subindo pela Pereia; ou (3) indo por Samaria. Os judeus ortodoxos evitavam passar por Samaria por causa do ódio antigo e profundo existente entre eles e os samaritanos.

Os samaritanos eram uma raça mestiça, parte judia e parte gentia, que havia se formado durante o cativeiro assírio das dez tribos do norte a partir de 727 a.C. Rejeitados pelos judeus por não poderem provar sua genealogia, os samaritanos estabeleceram seu próprio templo e cultos religiosos no monte Gerizim, o que só serviu para aumentar o preconceito. A aversão dos fariseus pelos samaritanos era tal que oravam para que nenhum samaritano fosse revivido no dia da ressurreição! Numa tentativa de insultar Jesus, seus inimigos o chamaram de samaritano (Jo 8:48). Uma vez que operava dentro do plano de Deus, era necessário que Jesus passasse por Samaria. Lá, encontraria uma mulher e a conduziria à fé salvadora, o tipo de fé que teria impacto sobre uma vila inteira. Jesus não fazia acepção de pessoas. Em uma ocasião anterior, havia aconselhado um judeu moralista (Jo 3) e, agora, estava prestes a testemunhar a uma mulher samaritana imoral!

Chegou ao poço de Jacó por volta do meio dia, horário em que as mulheres iam buscar água. Os discípulos foram à cidade mais próxima para buscar comida, enquanto Jesus esperou, de propósito, ao lado do poço. Estava cansado, faminto e sedento. João não mostra Jesus apenas como o Filho de Deus, mas também como um homem. Cristo passou pelas experiências normais da vida humana e é capaz de identificar-se conosco em cada uma delas.

Neste texto de João 4.1-42, Jesus nos ensina algumas lições que precisamos aprender:

1- É PRECISO  ROMPER AS BARREIAS PARA PREGAR O EVANGELHO (4.1-6)

Jesus foge do conflito sobre o batismo e sai da Judeia rumo à Galileia (4.1-3). Frequentemente vemos Jesus pregando e orando, mas nunca batizando.

Nessa jornada em direção ao norte, ele opta por passar pela província de Samaria (4.4). A agenda de Jesus começa no céu. Era-lhe necessário passar por Samaria. Havia três estradas para fazer esse trajeto do sul ao norte: uma nas proximidades da costa, outra através da Pereia, e outra que passava pelo centro de Samaria. Esta era a mais curta, porém algumas vezes evitada por causa do conflito entre judeus e samaritanos.

Jesus faz a transição de um diálogo com um doutor da lei para um diálogo com uma mulher samaritana. O contraste entre Nicodemos e a samaritana é gritante: ele, homem, judeu, fariseu, mestre, membro do Sinédrio; ela, mulher, samaritana, inculta, vivendo uma vida imoral. Ambos, porém, precisavam de Jesus e foram alvos do amor de Jesus. O Senhor prova, outrossim, ser capaz de salvar os dois.

4Nicodemos era um erudito, poderoso, respeitado, ortodoxo, teologicamente preparado; a samaritana era inculta, sem influência, desprezada, capaz somente de praticar uma religião popular. Ele era um homem, um judeu, um líder; ela era uma mulher, uma samaritana, uma pária moral. E ambos necessitavam de Jesus.6

Jesus ao se encontrar com aquela mulher ele não a acusou, apontando os seus pecados, mas lhe pediu um favor, depois apresentou a mulher a mensagem do evangelho.

Para alcançar aquela mulher Jesus ultrapassou algumas barreiras: Primeiro, a barreira cultural. O nome Sicar significa “cidade dos bêbados”. Jesus, porém, mandou que seus discípulos comprassem comida em Sicar. Os judeus consideravam imunda a comida dos samaritanos. Além do mais, um rabino não podia conversar com uma mulher em público. Jesus não só conversou com ela, mas lhe pediu um favor. A mulher tinha uma vida moral reprovada pela lei. Já tinha tido cinco maridos e agora vivia com um amante. Era uma mulher desprezada, mas Jesus a valorizou.

Segundo, a barreira racial. Como já deixamos claro, o povo samaritano era uma espécie de caldeamento de raças (2Rs 17.6,24). O povo samaritano era meio judeu e meio gentio. Havia perdido sua identidade racial. No tempo de Jesus, a desavença entre judeus e samaritanos perdurava por mais de quinhentos anos. Um judeu considerava um samaritano combustível para o fogo do inferno. Eles não se davam. Não bebiam nos mesmos vasos. No entanto, Jesus conversou com a samaritana e lhe pediu um favor.

Terceiro, a barreira religiosa. A separação entre judeus e samaritanos se relacionava, também, com a apostasia religiosa dos samaritanos. Eles haviam perdido a integridade doutrinária. Os samaritanos não preservaram a fé intacta. Diziam que o monte Gerizim era o lugar do verdadeiro templo e o lugar da verdadeira adoração. Rejeitaram o Antigo Testamento. Criam apenas nos livros da lei, o Pentateuco. Está provado que os samaritanos tinham uma religião sincrética, misturada e herética. Quando João Hircano, o general caudilho judeu, em 129 a.C. atacou Samaria e destruiu o templo samaritano, o ódio dos samaritanos pelos judeus agravou-se intensamente. A conversa de Jesus com a mulher samaritana tem todo esse cenário religioso como pano de fundo. Jesus supera todos esses obstáculos, vence todas essas barreiras e triunfa sobre todos esses preconceitos para alcançar o coração dessa mulher.

2- É PRECISO PREGAR O EVANGELHO AO PECADOR (4.7-18)

O evangelho precisa se pregado para libertar os pecadores que estão mortos em seus delitos e pecados. Assim podemos aprender com Jesus coisas maravilhosas no diálogo dele com mulher samaritana, ele lhe despertou:

A SIMPATIA (4.7-9) Jesus fez um ponto de contato com aquela mulher pedindo-lhe: Dá-me um pouco de água. Concordo com William Hendriksen quando ele diz que, se alguém deseja penetrar o coração de outra pessoa, pode usar dois métodos: fazer-lhe um favor ou pedir-lhe um favor. Com frequência, a segunda opção é mais eficaz que a primeira. Jesus, no entanto, combinou as duas.

Jesus se identificou com a mulher. Ele deu valor a ela, quando todos fugiam. Jesus quebrou a barreira cultural, conversando com a mulher em público. Ele não fugiu dela nem a desprezou, mas a olhou com simpatia. Não a julgou nem a condenou.

2 John Charles Ryle explica: “É em vão esperar que as pessoas virão a nós em busca de conhecimento. Nós devemos começar por elas. Devemos entender qual é o melhor acesso ao coração delas”.

A CURIOSIDADE 4.10-12 “A mulher precisava conhecer o dom de Deus, a água da vida” (4.10). A água da vida que Jesus oferece não vem de um poço comum. É uma dádiva que so o Messias pode conceder. Muitas pessoas vivem uma vida infeliz, vazia e prisioneira porque não conhecem Jesus, o supremo dom de Deus. A mulher samaritana talvez não esperasse nada de Deus. Estava desiludida. Por isso, Jesus tocou no nervo exposto de sua curiosidade: Se conhecesses […] não conheceis. Essa fala de Jesus aguçou na mulher o desejo de saber quem era aquele interlocutor.

O SENSO DE NECESSIDADE (4.13-15) a mulher samaritana não entendeu quando Jesus falou sobre a água da vida. Tanto o erudito Nicodemos quanto a ignorante samaritana não entenderam a linguagem espiritual de Jesus. As coisas deste mundo não satisfazem. Nada que o homem jogue para dentro do coração satisfaz. A água do poço de Jacó não satisfaz para sempre. A água do poço de Jacó fica fora da alma e não é capaz de satisfazer as necessidades do coração. A água do poço de Jacó é de quantidade limitada, diminui e desaparece.

Charles Erdman disse: “Satisfação era exatamente aquilo a que essa pobre mulher aspirava. Atrás disso andara toda a vida, e nessa busca não respeitara nem as leis de Deus, nem as dos homens. Entretanto, continuava sedenta; e a sede nunca seria satisfeita, senão quando achasse em Cristo o Senhor e Salvador pessoal”.

Que água é essa, a água da vida? A promessa de Deus é derramar água sobre o sedento (Is 44.3). Deus convida todos: Vos, todos os que tendes sede, vinde às águas (Is 53.1). Deus prometeu que seu povo tiraria com alegria águas do poço da salvação (Is 12.3). Jesus disse: Se alguém tem sede, venha a mim e beba (Jo 7.37). O Espírito que flui como rio dentro de nós é essa fonte que jorra para a vida eterna (Jo 7.38). William Barclay diz que, para o judeu, água viva significava água corrente. Tratava-se da água que fluía de uma nascente, em oposição à água estancada de uma cisterna.

D. A. Carson quando ele diz que há ecos de promessas do Antigo Testamento nessa promessa de Jesus. No dia da salvação, o povo de Deus tirará águas das fontes da salvação com alegria (Is 12.3); eles não sentirão fome nem sede (Is 49.10). O derramar do Espírito de Deus será como o derramar de água sobre o sedento e torrentes sobre a terra seca (Is 44.3). A linguagem da satisfação e transformação interior traz à mente uma série de profecias, antecipando o novo coração e a troca do falido formalismo religioso por um coração que conhece e experimenta Deus, ansioso por fazer sua vontade (Jr 31.29-34; Ez 36.25-27; Jl 2.28-32).19 Jesus desperta sua consciência (4.16-18)

3- O PECADOR PRECISA SE ARREPENDER PARA SER SALVO (4.16-18)

Ela se arrependeu dos seus pecados (4.16-18) – Convicção de Pecado.

Jesus desperta sua consciência (4.16-18) Jesus faz uma transição radical na conversa com a mulher e ordena: Vai, chama teu marido (4.16). Essa transição, porém, tem uma ligação estreita entre o pedido da mulher e a ordem de Cristo. A mulher quer essa água viva, mas tem sede suficiente para recebê-la? Hendriksen comenta: “Essa sede não será completamente despertada a menos que haja um senso de culpa, uma consciência de pecado. A menção de seu marido é a melhor maneira de lembrá-la de sua vida imoral. O Senhor está, agora, falando à consciência da samaritana. Jesus mostra que, antes de beber a água da vida, ela precisa ter convicção de pecado e passar pelo arrependimento. Não há salvação sem arrependimento. Jesus destampa tanto o passado quanto o presente da mulher samaritana, preparando seu coração para receber o dom de Deus (4.14-16).

John Charles Ryle sustenta que, a menos que homens e mulheres sejam levados à consciência de sua pecaminosidade e de sua necessidade, nenhum bem poderá ser feito à sua alma. Até que o pecador veja a si mesmo como Deus o vê, ele continuará sem nenhuma ajuda. Nenhum pecador desejará o remédio da graça até se reconhecer como doente. Ninguém está habilitado a ver a beleza de Cristo até ver a própria hediondez. A ignorância do pecador levará à negligência a Cristo.

A mulher samaritana dá uma resposta verdadeira, mas incompleta. A resposta era formalmente correta, mas potencialmente enganosa.26 Nas palavras de Werner de Boor, a mulher proferiu uma meia verdade, por meio da qual esperava esquivar-se para uma escuridão protetora.

A mulher disse: “Não tenho marido”(4.17).Jesus elogiou sua sinceridade formal, enquanto afirmou que ela já havia tido cinco maridos (mortos ou divorciados), e o homem com quem ela vivia agora não era de forma alguma legalmente seu marido(4.17,18). O conhecimento preciso de Jesus sobre o seu passado provava que Jesus é o Messias.28  A mulher percebeu que Jesus conhecia sua vida. A mulher samaritana reconheceu que estava diante de um profeta. A mulher percebeu que Jesus conhecia sua vida. A mulher samaritana reconheceu que estava diante de um profeta.

Jesus desperta seu sentimento religioso (4.19-24)

A mulher até então tão falante se calou quando Jesus tocou no seu pecado. Outros acreditam que ela mudou de assunto, passando a uma discussão teológica, uma vez que a conversa havia se tornado incômoda. É mais fácil discutir teologia do que enfrentar os próprios pecados. Nas palavras de D. A. Carson “é mais fácil falar de teologia que tratar com uma verdade pessoalmente angustiante”.

Contudo, como os samaritanos só acreditavam no Pentateuco e como Deuteronômio diz que Deus suscitaria outro profeta semelhante a Moisés, esse profeta seria o Messias. Assim, essa mulher fez uma pergunta honesta: Onde adorar? Jesus respondeu que o importante não é onde, mas como e quem adorar. A verdadeira adoração a Deus é em espírito e em verdade. E de todo o coração e também prescrita pela Palavra de Deus. Os samaritanos adoravam o que não conheciam. Assim, qualquer religião que consista apenas em formalidade, sem fundamentação nas Escrituras, é absolutamente inútil.

A verdadeira adoração é um dos temas centrais das Escrituras. A veneração de imagens de escultura é uma abominação para Deus, pois Deus é plenamente espiritual em sua essência. Quando Jesus diz que Deus é Espírito, isso significa que Deus é invisível, intangível e divino, em oposição a humano. E desconhecido para os seres humanos a menos que decida se revelar (1.18). Da mesma forma que Deus é luz (ljo 1.5) e amor (ljo 4.8), também é Espírito (4.24). Esses são elementos da forma em que Deus se apresenta aos seres humanos, da bondosa autorrevelação em seu Filho. Deus escolheu se revelar quando o Verbo se fez carne. Quem vê Jesus, vê o próprio Pai.

O culto prestado a outros deuses é uma ofensa a Deus, pois Deus é um só e não há outro. A adoração a Deus, entre[1]mentes, não pode ser do nosso modo nem ao nosso gosto, pois Deus mesmo estabeleceu critérios claros como exige ser adorado. Muitas igrejas, com o propósito de agradar às pessoas, estabelecem formas estranhas de adoração que não estão prescritas nas Escrituras. Isso é como fogo estranho no altar. O pragmatismo religioso está substituindo a verdade de Deus em muitas igrejas. Muitas pessoas buscam o que funciona, não o que é certo. Procuram o que dá resultado, não a verdade. Estabelecem um culto sensório, não um culto em espírito e em verdade.

A verdadeira adoração não se limita a um lugar, seja o Monte Gerezim ou ao Monte ou a Jerusalém, mas em espírito e em verdade. A adoração não é centrada em lugares sagrados 4.20. Não é neste monte nem naquele. Não existe lugar mais sagrado que outro. Não é o lugar que autentica a adoração, mas a atitude do adorador. Segundo, não é adoração sem entendimento (4.22). Os samaritanos adoravam o que não conheciam. Havia uma liturgia desprovida de entendimento. Havia um ritual vazio de compreensão. Terceiro, não é adoração descentralizada da pessoa de Cristo (4.25,26). Os samaritanos adoravam, mas não conheciam o Messias. Cristo não era o centro do seu culto. Nossa adoração será vazia se Cristo não for o centro. O culto não serve para agradar as pessoas. A música não serve para entreter os adoradores. A verdadeira música vem do céu e é endereçada ao céu (SI 40.3). Vem de Deus por causa de sua origem e volta para Deus por causa de seu propósito.

A adoração falsa é abominação para Deus, e a adoração hipócrita provoca o desgosto de Deus. O profeta Isaías já havia demonstrado o desgosto divino, quando disse que o povo de Israel honrava a Deus com os lábios, mas seu coração estava distante de Deus (Is 29.13). Nessa mesma linha, Amós foi contundente quando escreveu em nome de Deus: Eu detesto e desprezo as vossas festas; não me agrado das vossas assembleias solenes […]. Afastai de mim o som dos vossos cânticos, porque não ouvirei as melodias das vossas liras (Am 5.21,23).

Jesus também diz à mulher samaritana o que a adoração é. Primeiro, a adoração precisa ser bíblica (4.24). O nosso culto é bíblico ou é anátema. Deus não se impressiona com pompa; ele busca a verdade no íntimo. Segundo, a adoração precisa ser sincera (4.24). A adoração precisa ser em espírito, ou seja, de todo o coração. Precisa ter fervor. Não é um culto frio, árido, seco, sem vida.

Jesus desperta em seu coração a fé verdadeira (4.25,26)

A mulher menciona o Messias que havia de vir. Então, Jesus diz: Sou eu, o que está falando contigo. A declaração sou eu lembra a própria revelação de Deus Eu sou o que sou (Ex 3.14). Jesus disse este “Eu sou” nove vezes nesse evangelho (6.20; 8.24,28,58; 13.9; 18.5,6,8). Até aqui, seis vezes Jesus se dirigiu à mulher, e seis vezes ela lhe respondeu. Na sétima vez, quando Jesus declarou ser o Messias, ela não lhe diz palavra; o quedemos é que ela deixou ali seu cântaro, foi à cidade e disse ao povo: Vinde, vede um homem que me disse tudo o que tenho feito; será ele o Cristo?

A samaritana encontrou o Messias. Saciou sua alma e bebeu da água da vida. De acordo com William Barclay, o fato de a mulher samaritana ter deixado o cântaro aponta para dois fatos: 1) ela estava com pressa para ir à cidade e compartilhar sua experiência com o Messias; 2) ela tinha convicção de que voltaria para estar com Jesus.33

Podemos elencar várias evidências de sua verdadeira conversão. Primeiro, a samaritana deixou o cântaro (4.28). Segundo, ela correu à cidade para anunciar Jesus (4.28b[1]30). Ela testemunhou para toda a cidade ter encontrado um homem que para ela era o Messias. Quem encontra Jesus tem pressa em compartilhar essas boas-novas com todos. Sua compreensão sobre Jesus foi progressiva: primeiro, pensou ser um viajante judeu cansado; dai passou a considerá-lo “profeta”; e finalmente, Cristo , a quem o povo de sua cidade chama de “o Salvador do mundo” .

Concordo com John MacArthur quando ele diz que O diálogo de Jesus com a mulher samaritana ilustra três Verdades inegociáveis sobre a salvação. Em primeiro lugar, a salvação vem somente para aqueles que reconhecem sua desesperada necessidade de vida espiritual. Segundo, a salvação vem somente para aqueles que confessam e se arrependem de seus pecados e desejam perdão. Terceiro, a salvação vem somente para aqueles que recebem Cristo como o seu Messias e Salvador.34

4- O SALVO PRECISA SER TESTEMUNHA DE JESUS (4.28-30)

A atitude da mulher samaritana (4.28-30) – A mulher samaritana teve os olhos abertos progressivamente. Agora, ela compreende que está diante do Messias, o esperado Salvador do mundo. Sua alma é dessedentada pela água da vida, e não consta que Jesus tenha bebido a água do poço de Jacó. A transformação da mulher samaritana pode ser confirmada por suas atitudes, como vemos a seguir.

Primeiro, ela abandona o seu cântaro. A mulher deixou ali seu cântaro […] (4.28a). A água que ela foi buscar não tinha mais vital importância agora. A mulher havia encontrado a água da vida. Havia saciado sua alma. Sua vida fora penetrada pela luz do céu, e os segredos do seu coração foram revelados pelo Messias. Havia pressa para contar essa boa-nova à sua cidade, e a samaritana estava disposta a desvencilhar-se de qualquer obstáculo para ganhar celeridade.

Segundo, ela proclama o Messias. […] foi à cidade e disse ao povo: Vinde, vede um homem que me disse tudo o que tenho fito ; será ele o Cristo? Saíram, pois, da cidade e foram ao encontro dele (4.28b-30). No mesmo dia da conversão dessa mulher, ela se tornou uma missionária. O testemunho da mulher samaritana tem alguns componentes que merecem destaque, como veremos a seguir.

Ela faz uma proclamação pública (4.28b). Até então, essa mulher, provavelmente, fazia de tudo para passar despercebida. Preferia as sombras do anonimato. Sua reputação era duvidosa, e sua palavra tinha pouco peso entre os homens daquela cidade. Agora, porém, ela anunciava altissonantemente o Messias. Não havia constrangimento nem temor.

Ela faz um convite veemente (4.29). Sabiamente, essa mulher fez um convite: Vinde. Usando a mesma tática que Filipe empregou com Natanael, ela disse: Vinde, vede um homem que me disse tudo o que tenho feito […]. Ela não desperdiçou tempo usando argumentos confusos; antes, conclamou à verificação. Desejava que aqueles homens tivessem a mesma experiência que ela havia tido. Queria que vissem o mesmo Messias que ela havia visto. Esperava que bebessem a mesma água da vida que ela havia bebido.

Ela faz uma confissão corajosa (4.29). A vida dessa mulher era conhecida na cidade. Todos sabiam que ela já estava morando com o sexto homem. Sua fama de amante das aventuras era o cardápio preferido dos bisbilhoteiros. Mas ela não tem mais a preocupação de encobrir seus pecados. Diz abertamente que o Messias destampou a câmara de horrores do seu coração e trouxe à luz todos os seus pecados ocultos.

Ela vê um resultado extraordinário. Saíram, pois, da cidade e foram ao encontro dele (4.30). Os discípulos de Jesus vão à cidade e voltam sozinhos, com as mãos cheias de pães. A mulher vai à cidade e traz consigo muitas pessoas para conhecerem Jesus. Os discípulos tornaram-se profissionais da religião; ela, uma missionária apaixonada.

Ainda hoje, fazemos o mesmo que os discípulos. Entramos nos supermercados, nas lojas, nas farmácias e compramos, vendemos, trocamos e entramos mudos e saímos calados quanto ao evangelho. Essa mulher samaritana reprova nosso silêncio e nossa covardia.

A atitude de Jesus (4.31 -38) Aproveitando o fato de a mulher samaritana ter se ausentado, os discípulos rogam a Jesus: Rabi, come! Jesus aproveita o ensejo para ensinar a eles uma profunda lição, dizendo que a comida mais saborosa e mais necessária era fazer a vontade do Pai. Uma cidade estava vinda ao seu encontro, e eles deveriam entender que aquele era um momento de colheita para o reino de Deus. Nenhuma necessidade era mais urgente. Nenhuma atividade lhe dava mais prazer.

Os discípulos pensam que ele está falando sobre comida física, pois perguntam: Acaso alguém lhe trouxe o que comer?

Chamo a atenção para cinco verdades a seguir.

Em primeiro lugar, precisamos ter visão. Não dizeis vós faltarem ainda quatro meses para a colheita? Mas eu vos digo: Levantai os olhos e vede os campos já prontos para a colheita (4.35). Os discípulos eram míopes espirituais. Eles não tinham discernimento do momento que estavam vivendo. Jesus está dizendo: “Vocês acham que deve existir certo intervalo entre a semeadura e a colheita, mas eu lhes digo que acabei de semear a semente, e a colheita já está acontecendo (referindo-se ou à mulher samaritana ou ao povo de Sicar que estava se aproximando).38 Apesar de a colheita de grãos estar ainda distante (quatro meses), a colheita de almas já poderia ser feita.39 Nós, também, precisamos ter visão: visão de que, sem Cristo, o ser humano está perdido. Visão de que as falsas religiões prosperam. Visão de que a ignorância não é um caminho para Deus. Visão de que a obra de Deus precisa ser realizada agora. Se perdermos a nossa geração, perderemos o tempo da nossa oportunidade. Concordo com D. A. Carson quando ele diz que a era escatológica raiou no ministério de Cristo, no qual a semeadura e a ceifa acontecem juntas na colheita do fruto.

Em segundo lugar, precisamos ter paixão. Disse-lhes Jesus: A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou e completar a sua obra (4.34). Faltava aos discípulos paixão pelas almas perdidas. Falta-nos também essa mesma paixão. Sem paixão seremos apáticos e lentos. Sem paixão, seremos omissos e covardes. Precisamos clamar como Paulo: E ai de mim, se não anunciar o evangelho! (ICo 9.16). Precisamos clamar como John Knox: “Dá-me a Escócia para Jesus, senão eu morro”.

Em terceiro lugar, precisamos ter compromisso (4.33). Uma lavoura madura não pode esperar para ser colhida. Ou é colhida imediatamente, ou a colheita é perdida. Sicar estava madura para ser colhida. A cidade estava a caminho, e não havia tempo a perder. Aquela não era hora de comer, mas de trabalhar e fazer a vontade do Pai. A evangelização não é um programa, mas um estilo de vida. Esse compromisso deve arder em nosso peito. Quando o presidente americano John Kennedy foi assassinado em Dallas, em 22 de novembro de 1963, dentro de seis horas a metade do mundo já sabia de sua morte. Jesus, o Filho de Deus, foi crucificado pelos nossos pecados há dois mil anos, e quase a metade do mundo ainda não ouviu essa maior notícia do mundo.

Em quarto lugar, precisamos ter parceria (4.36-38). Jesus falou a respeito do semeador e do ceifeiro. Um planta, e o outro ceifa. Jesus havia semeado na vida da mulher samaritana, e os discípulos agora fariam uma colheita do que não haviam semeado. Jesus é o semeador por excelência; mais do que isto, ele é o grão de trigo que cai na terra e morre, para produzir fruto em abundância (12.24). Não há ceifa onde não há semeadura. Nem sempre aquele que semeia é o que ceifa. Tanto o que semeia como o que ceifa, entretanto, têm sua recompensa. Não há maior alegria de que levar uma pessoa a Cristo. Não há maior recompensa do que entesourar frutos para a vida eterna.

O semeador trabalha em antecipação do que está para vir; o ceifeiro nunca deve esquecer que a colheita que ele desfruta é fruto do trabalho de outro. Na ceifa do Senhor, não há competição; deve existir parceria: um planta, outro rega e outro ainda ceifa (ICo 3.6-9).

Em quinto lugar, precisamos ter a certeza da recompensa (4.36). O ceifeiro recebe desde já sua recompensa e entesoura seu fruto para a vida eterna. Quando um pecador se volta para Deus, deve haver alegria não apenas diante dos anjos no céu, mas também diante dos ceifeiros na terra. Quando esses ceifeiros chegarem ao céu, serão recebidos por aqueles que foram alcançados por intermédio de seu ministério (Lc 16.9).

A atitude dos samaritanos (4.39-42) Em resposta ao convite da mulher samaritana, muitos samaritanos foram encontrar-se com Cristo no poço de Jacó. O testemunho da mulher foi impactante, e o resultado foi notório.

Destacamos três fatos importantes nesse ponto.

Em primeiro lugar, a fé dos samaritanos. E muitos samaritanos daquela cidade creram nele, por causa da palavra da mulher, que testemunhava: Ele me disse tudo quanto tenho feito (4.39). A fé vem pelo ouvir a palavra de Cristo. Quando falamos a respeito de Cristo às pessoas, Deus concede a elas a fé salvadora. O milagre da salvação raiou na cidade samaritana, e muitos foram salvos.

Em segundo lugar, o pedido dos samaritanos. Então os samaritanos foram até ele e pediram-lhe que ficasse; e ele ficou ali dois dias (4.40). A barreira da inimizade entre judeus e samaritanos estava caindo. Aonde o evangelho chega, os preconceitos são vencidos. Jesus agora é convidado a permanecer com eles. Os samaritanos não querem apenas ver e ouvir. Querem também ter comunhão com Jesus.

Em terceiro lugar, o testemunho dos samaritanos. E muitos outros creram por causa da sua palavra. E diziam à mulher: Já não é pela tua palavra que cremos; pois agora nós mesmos temos ouvido e sabemos que este é verdadeiramente o Salvador do mundo (4.41,42). Os samaritanos não queriam ouvir apenas a mulher; queriam ouvir diretamente o Messias. E, ao ouvirem o Messias, muitos outros também abraçaram a fé. E todos testemunham que sua experiência pessoal com o Messias lhes deu a plena convicção de que ele verdadeiramente é o Salvador do mundo. Aqui cessa a ideia provinciana de um salvador tribal, de uma divindade regional. Jesus não é um salvador dentre outros; ele é o Salvador do mundo, e não há outro.

CONCLUSÃO

Neste texto de João, podemos ver o amor de Jesus, pelo pecador ao ir salvar a mulher pecadora de Samaria rompendo as barreiras. Mas também ele nos ensina que o pecador precisa se arrepender para ser salvo. Todos os que foram salvos precisam ser testemunhas do Senhor jesus e levar a mensagem do evangelho aos que estão perdidos, na certeza que no Senhor Jesus há salvação para todos os que o aceitam como como seu Senhor e Salvador, pois nele há perdão e graça para o mais vil pecador.

Adap. Pr. Eli Vieira

Referência Bibliográfica:

1- Wiersbe, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo : Novo Testamento : volume I / Warren W. Wiersbe ; traduzido por Susana E. Klassen. – Santo André, SP : Geográfica editora, 2006.

2- Lopes, Hernandes Dias – João: As glórias do Filho de Deus / Hernandes Dias Lopes. — São Paulo:  Hagnos, 2015.

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